Menisco Discóide

O que são os meniscos?

Os meniscos são duas estruturas em forma semi-circular ou de meia-lua, que se localizadam dentro da articulação do joelho. Eles tem como principal função  absorver o impacto entre o fêmur e a tíbia, dissipando o estresse e dispersando as cargas compressivas.

As funções incluem transmissão de força, aumento da congruência articular e estabilização secundária do joelho.


Localização dos meniscos intra-articular. Site American Academy of Orthopaedic Surgeons – AAOS.

Vídeo no nosso canal do YouTube da inspeção articular do compartimento medial do joelho sem lesões

 

O que é um menisco discóide?

Um menisco discóide é uma variante anatômica do menisco normal. Essas variantes são mais comumente predispostas a lesões em comparação com um menisco de formato usual. Elas são classificados como subtipos completo, incompleto e variante de Wrisberg.

Tipos de menisco discóide. Retirado de Birchard Z Et Al. In:  StatPearls Publishing; 2022 Jan.

Quando alguma dessas variantes está presente e causa sintomas, pode levar à quadros dolorosos e sensação de “estalo” no joelho, comumente referida como “síndrome do joelho que estala”.

Etiologia

Sua primeira descrição foi feita por Young em 1889. Sugere-se que o menisco discóide seja congênito. Entretanto, a causa exata ainda é motivo de amplo debate na literatura, podendo existir diversas etiologias.

Sintomas

Indivíduos com menisco discóide podem ser assintomáticos. Se houver uma ruptura ou instabilidade, os sintomas geralmente se desenvolvem no joelho acometido.

Os sintomas do menisco discóide incluem principalmente a dor (até 90% dos casos) e estalos ou ressaltos insidiosos (até 60% dos casos). Além desses, os pacientes podem relatar  derrame articular, amplitude de movimento limitada e bloqueio articular.

Imagens mostrando o momento de flexo-extensão e o deslocamento do menisco, gerando o “estalo”. Fonte: Tapasvi S et al. Discoid lateral meniscus: current concepts. J ISAKOS. 2021 Jan;6(1):14-21.

A síndrome do joelho em ressalto, na qual um estalo é ouvido no final do movimento, geralmente está relacionada a uma variante instável do menisco, como o Wrisberg.

Acredita-se que microtraumas repetitivos no arranjo anormal do colágeno causem rupturas horizontais após devido à degeneração.

Imagem de RNM evidenciando lesão horizontal no menisco lateral semi-discoide. Tapasvi S et al.Discoid lateral meniscus: current concepts. J ISAKOS. 2021 Jan;6(1):14-21.

 

Diagnóstico

Um dos aspectos importantes no diagnóstico do menisco discóide é obter uma história adequada do paciente associado a um exame físico minucioso.

O exame de imagem que auxilia no diagnóstico é a ressonância magnética do joelho. Através dela podemos identificar o tamanho do menisco, além de detectar a presença de ruptura ou um deslocamento do menisco discóide.

Cortes de RNM mostrando variações de menisco discoide. Tapasvi S et al. Discoid lateral meniscus: current concepts. J ISAKOS. 2021 Jan;6(1):14-21.

 

Tratamento

Os fatores que determinam o tratamento incluem o tipo de menisco discóide, sintomas concomitantes, duração dos sintomas e idade.

A maioria dos casos de menisco discóide permanece assintomática e não requer tratamento cirúrgico, uma vez que o joelho pode ter se adaptado à anatomia discóide e continua funcionando bem. Se houver sintomas como dor, travamento, inchaço, falseios ou instabilidade, o tratamento cirúrgico pode ser necessário.

A meniscectomia total é geralmente evitada em crianças, exceto em casos raros em que todo o menisco é considerado irrecuperável. Há a preocupação de que a retirada total do menisco possa gerar artrose precoce do joelho.

A meniscectomia parcial (saucerização) com preservação de um rebordo periférico estável, com ou sem reparo periférico, é eficaz e tem sido recomendada por muitos autores. Este tratamento tenta mudar o menisco para uma forma e tamanho mais semelhantes ao normal.

Além disso, em alguns casos, é possível realizar a fixação do menisco através de técnicas de sutura meniscal. Esta técnica é abordada no nosso tópico de lesões meniscais.

Em casos de pacientes com sintomas de instabilidade, apenas a artroscopia é capaz de confirmar o diagnóstico e realizar o tratamento do menisco discóide na variante de Wrisberg.

Técnica mista para tratamento do menisco discóide: saucerização e sutura. Ahn J et al . Saucerization Is Superior to Total Meniscectomy in Patients With Symptomatic Discoid Lateral Meniscus. Arthroscopy. 2021 Feb;37(2):655-656.

Menisco discóide após técnica de saucerização. Del Pilar et al. Arthroscopic knee anatomy in young achondroplasia patients J Child, Orthop 2017;11:169-174.

Vídeo mostrando a saucerização do menisco e sutura

Complicações

Após meniscectomia parcial (saucerização) e/ou reparo de um menisco discóide, o menisco remanescente é mais vulnerável à re-ruptura do que o menisco normal. Além disso, muitos estudos sugerem que a meniscectomia total pode levar a um alto risco de artrose.

Uma complicação que pode ocorrer na cirurgia do menisco discóide é a osteocondrite dissecante (OCD) do côndilo femoral lateral. Esta lesão pode ser consequência de uma meniscectomia total ou parcial do menisco lateral discóide. A impacção repetida na estrutura condral imatura após a ressecção do menisco discóide pode predispor ao desenvolvimento de OCD no côndilo femoral lateral.

Referências

  1. Birchard Z, Herron T, Tuck JA. Discoid Meniscus. [Updated 2022 May 11]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan.
  2. Tapasvi S, Shekhar A, Eriksson K. Discoid lateral meniscus: current concepts. J ISAKOS. 2021 Jan;6(1):14-21. doi: 10.1136/jisakos-2017-000162. Epub 2020 Sep 16. PMID: 33833041.
  3. Ahn J, Lee SH. Editorial Commentary: Saucerization Is Superior to Total Meniscectomy in Patients With Symptomatic Discoid Lateral Meniscus. 2021 Feb;37(2):655-656. doi: 10.1016/j.arthro.2020.11.022. PMID: 33546802.
  4. Del Pilar Duque Orozco M, Record NC, RogersKJ, Bober MB, Mackenzie WG, Atanda Jr A. Arthroscopic knee anatomy in young achondroplasia patients J Child, Orthop 2017;11:169-174. DOI: 10.1302/1863-2548.11.160168
  5. Insall and Scott. Surgery of The Knee. 5th

As informações contidas neste tópico são apenas alguns dos principais pontos sobre esse vasto assunto. Caso necessite uma avaliação, ficaremos felizes em lhe receber.

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